Aniversário da obra "Origem das Espécies" de Charles Darwin
Retrato do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882)
No dia 24 de novembro de 1859, uma quinta-feira, era lançada a primeira edição de "Sobre a Origem das Espécies Através da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida", ou simplesmente "A Origem das Espécies", como ficou conhecida.
Exemplar da primeira edição do livro de Charles Darwin "Origem das Espécies", vendido por 103.250 libras pela casa de leilões Christie's.
Com tiragem inicial de 1.250 exemplares, "o livro que abalou o mundo", considerado um dos mais importantes da história, apresentava ao mundo a teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882).
Os estudos do naturalista apontavam para um lento processo de seleção natural e de descendência, por meio de inúmeras mutações e adaptações graduais.
O título causou grande polêmica na época. A hipótese de Darwin contraria o criacionismo, ideia religiosa de que toda a forma de vida procede da criação divina, literalmente como é apresentado pela Bíblia. Supor o parentesco entre homens e macacos também contribuiu para o assombro da Inglaterra vitoriana e do mundo.
No 150º aniversário de sua publicação, um exemplar da primeira edição foi vendido por 103.250 libras (aproximadamente 170 mil dólares), pela casa de leilões Christie's, na Inglaterra.
Para a biologia, há um antes de Darwin e um depois de Darwin. Foi Charles Darwin (1809-1882) quem pela primeira vez sugeriu um mecanismo plausível de explicação da origem das espécies e da sua evolução ao longo dos tempos. O cientista nasceu há 200 anos, e publicou A Origem das Espécies há 150.
A teoria de Darwin foi revolucionária e enfrentou sérios obstáculos: o evolucionismo contrariava a ideia tradicional cristã de que Deus criara o Homem na sua forma presente e definitiva, pondo assim em causa a posição central do ser humano entre a restante criação. Uma das imagens mais conhecidas do cientista é uma caricatura que o representa com corpo de macaco.
Com o tempo, a comunidade científica acabou por aceitar a teoria da evolução. No entanto, o mecanismo da selecção natural - a sobrevivência dos mais bem adaptados, que teriam mais hipóteses de se reproduzir - foi, e continua a ser, bastante discutido. A influência do darwinismo fez-se sentir não só na biologia, como na filosofia, na antropologia e nos estudos políticos - no fundo, todas as áreas de estudo que têm o Homem e a vida como tema central.
Mais que um estudioso de secretária, Darwin foi um investigador dinâmico no terreno. Recolheu e observou inúmeras espécies e fez estudos geológicos ao longo dos cinco anos de viagem a bordo do Beagle, durante os quais deu a volta ao mundo. Para além das suas próprias observações, enviou para Inglaterra muito do material que ia recolhendo, e que foi estudado também por outros cientistas. Desenvolveu uma rede de contactos extraordinária, como atesta a sua correspondência - pelo menos 25 mil cartas de e para o cientista.
150 anos depois da publicação de A Origem das Espécies, o darwinismo ainda não foi conciliado com a Igreja. O Vaticano promove em Março uma conferência que tratará do design inteligente da criação - uma teoria que tenta conciliar ambas as visões, alegando que a complexidade da vida não pode justificar-se apenas com a teoria da evolução, tendo de haver uma inteligência superior em jogo. No entanto, o tema não será abordado de um ponto de vista teológico ou científico, mas como fenómeno cultural.
Outra das muitas discussões actuais sobre a teoria da evolução prende-se com a questão de até que ponto o Homem, hoje em dia, continua a evoluir segundo os princípios do darwinismo, já que o desenvolvimento científico e tecnológico lhe permite sobreviver, e portanto reproduzir-se, de forma artificial.
Por todo o mundo decorrem comemorações. A Fundação Calouste Gulbenkian inaugura hoje, 12 de Fevereiro, uma exposição sobre Darwin, que estará patente até 24 de Maio, seguindo depois para outras cidades em Portugal e no estrangeiro. A exposição é comissariada pelo biólogo José Feijó, e é uma das iniciativas de comemoração desta instituição. Veja aqui a galeria de imagens. Na Universidade do Porto está patente a exposição Charles Darwin (1809-2009) - Evolução e Biodiversidade.
Breve história sobre Darwin e suas pesquisas.
Introdução
Naturalista britânico, inicia estudos de Medicina e de Teologia, mas em 1831, aprende bastante de Botânica, Entomologia e Geologia, é recomendado para uma expedição científica a bordo do Beagle. A volta ao mundo do Beagle dura cinco anos, durante os quais Darwin forma a sua colecção de naturalista, acumula observações práticas e modifica os postulados teóricos básicos da ciência biológica da época. Aos 27 anos, de regresso a Inglaterra, decide dedicar a sua vida à ciência. Em 1842, com a herança paterna, retira-se para uma casa no campo, onde vive consagrado ao estudo até à morte.
No estudo A Origem das Espécies formula a teoria da evolução dos seres vivos mediante uma selecção natural que favorece nos indivíduos variações úteis na luta pela existência; estas variações transmitem-se, reforçadas, aos descendentes.
Charles Darwin formula a doutrina evolucionista, segundo a qual as espécies procedem umas das outras por evolução. Em virtude da selecção natural sobrevivem os indivíduos e as espécies melhor adaptados. Estas ideias revolucionam as concepções biológicas da sua época.
A esta obra segue-se A Origem do Homem, em que aprofunda a sua teoria sobre a descendência do homem e do macaco de um antepassado comum. Por formular estas ideias vê-se violentamente combatido pelas mais diversas correntes religiosas, que vêm no homem a imagem de Deus. Consequentemente, em redor do pensamento de Darwin cristalizam as polémicas vitorianas sobre a natureza social, metafísica e fisiológica do homem.
O impacto desta obra é imediato e sensacional. O público culto já está introduzido na concepção da evolução, mas o facto de um cientista respeitado contribuir com tal quantidade de evidências para provar esta ideia revolucionária convence um grande número de cientistas importantes, de modo que, por muitos oponentes que tenha, a opinião geral torna-se favorável.
Darwin tem uma influência decisiva sobre a literatura da segunda metade do século XIX e contribui involuntariamente para o advento do naturalismo literário.
Desenvolvimento
Charles Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809 no seio de uma família abastada. O seu pai era um médico famoso e altamente respeitado e Susannah, sua mãe, pertencia a uma importante família de fabricantes de cerâmica.
Darwin não foi um aluno brilhante, pois não se interessava pelas matérias que lhe ensinavam na escola. Estava destinado a viver da fortuna da família, mas o seu pai convenceu-o a optar por uma profissão. Em 1825, Charles Darwin foi estudar medicina, tendo desistido dois anos mais tarde, para ingressar no curso de direito na Universidade de Cambridge. Um dos seus professores, Prof. Henslow, convenceu-o a levar mais a sério o seu interesse pelas Ciências.
Em Janeiro de 1831, Darwin formou-se. O Prof. Henslow falou-lhe então de um navio, o H.M.S. Beagle, que iria partir para uma viagem à volta do mundo numa missão de investigação e, assim, em 27 de Dezembro de 1831, Darwin partiu numa expedição que iria durar cinco anos e que se iria tornar um marco da história da Ciência.
O governo inglês queria contribuir para a cartografia de zonas pouco conhecidas da costa sul-americana. Para esta tarefa, era necessário um naturalista, para observar e coleccionar tudo o que houvesse de interesse — Darwin, devido à sua juventude, era a escolha acertada.
A viagem do Beagle começou a 27 de Dezembro de 1831 e durou 5 anos. Durante este tempo percorreu toda a costa sul-americana, parou em todas as ilhas das Galápagos, continuando para a Austrália e depois para Sul de África.
Darwin teve oportunidade de observar diferentes fenómenos da natureza que lhe despertaram a curiosidade e que viriam a ser pilares no desenvolvimento da sua teoria. Na Argentina, desenterrou ossos de animais já extintos, mas que apresentavam algumas semelhanças com espécies actuais.
Mais tarde, no Chile, presenciou um vulcão em plena erupção; as Galápagos apresentavam uma fauna e flora peculiares, que lhe proporcionaram o estudo das iguanas, tentilhões e tartarugas.
Após a chegada do Beagle a Inglaterra, o trabalho de Darwin como naturalista tinha de ser terminado. Para isso, instalou-se em Londres, onde editou dois livros: um livro que descrevia o trabalho zoológico durante a viagem e outro que era o seu diário de bordo.Pouco tempo depois do seu casamento com Emma Wedgwood, a família mudou-se para a aldeia de Down no Sudeste da Inglaterra. Foi aqui que desenvolveu a teoria que o tornaria famoso e que iria revolucionar o pensamento. Darwin permaneceu nesta casa o resto da vida rodeado apenas pela família e alguns amigos mais íntimos.
Todas as informações recolhidas durante a viagem e os relatórios que os seus colegas prepararam (baseados nas espécies enviadas por Darwin) alertaram-no para algumas questões.
As tartarugas das Galápagos eram suficientemente parecidas para terem uma origem comum, mas pertenciam a 7 espécies diferentes, e cada espécie vivia numa só ilha. Um fenómeno semelhante acontecia com os tentilhões. Darwin concluiu que as ilhas tinham sido povoadas a partir do continente e que as características de cada ilha tinham condicionado a evolução das espécies, levando assim à sua diferenciação. Esta conclusão levou Darwin a juntar-se à corrente evolucionista, já defendida por outros como Lamarck.
Segundo Lamarck, todas as espécies tinham evoluído a partir de outras espécies ancestrais. E as novas características adquiridas pelos seres vivos deviam-se à necessidade de adaptação ao meio que os rodeava. Sendo assim, se um órgão ou função de um ser vivo fosse muito utilizado, este tornava-se mais forte, mais vigoroso e de maior tamanho. Mas se um órgão ou função não fosse utilizado, atrofiava e acabaria por desaparecer. Estas características eram, por sua vez, transmitidas às gerações seguintes. A adaptação era progressiva e caminhava para a perfeita interacção com os factores ambientais. Desta forma, Lamarck explicava o tamanho do pescoço das girafas ou dos flamingos.
Darwin veio modificar a teoria de Lamarck tornando-a mais verdadeira. Segundo esta teoria, o número de indivíduos de uma espécie não se altera muito de geração em geração, pois uma boa parte dos indivíduos de uma geração é naturalmente eliminada, devido à luta pela sobrevivência. Assim, os indivíduos que sobrevivem são os mais aptos e melhor adaptados ao meio ambiente, os outros são eliminados progressivamente. O resultado desta luta é uma selecção natural que ocorre na natureza, privilegiando os melhores dotados relativamente a determinadas condições ambientais. Como as formas mais favorecidas têm uma maior taxa de reprodução em relação às menos favorecidas, vão-se introduzindo pequenas variações na espécie que a longo prazo levam ao aparecimento de uma nova espécie. Como os mecanismos hereditários ainda não eram conhecidos, Darwin não conseguiu explicar como surgiam as variações dentro das espécies, nem como eram transmitidas às descendências.
Ao mesmo tempo que Darwin definia a sua teoria, o naturalista Wallace enviou-lhe o seu trabalho, com uma teoria muito próxima à sua, para que Darwin desse a sua opinião. Este facto apressou todo o processo e pouco tempo depois, Darwin apresentou a sua teoria e a de Wallace à Linnaean Society. Dedicou o ano seguinte a escrever um livro, que em quatro volumes resumia a sua teoria, ao qual Darwin chamou de "On the origin of species" (A origem das espécies).
O livro esgotou no primeiro dia de vendas e levantou uma tempestade de ideias que dificilmente se acalmou. A Igreja Católica contestou ferozmente a teoria, pois esta desmentia alguns dogmas seculares. Além disso, reduzia-nos a um universo apenas material, onde todo o processo de criação se devia ao ambiente e não a Deus. Darwin sempre negou a sua intenção de destruir a imagem de Deus e manteve-se devoto até ao fim da sua vida.
Darwin publicou muitas outras obras expondo as suas teorias e a sua biografia. Foi igualmente pioneiro em muitos temas controversos no campo das ciências. As suas ideias foram realmente revolucionárias, tendo iniciada uma linha de pensamento totalmente original.
Morreu a 1 de Abril de 1882, tendo sido sepultado na Abadia de Westminster — devido à sua popularidade, o governo concedeu-lhe esta honra, ainda que contra a vontade da família.
Frases Célebres de Charles Darwin
"A man´s friendships are one of the best measures of his worth" (as amizades de um homem são uma das melhores medidas de quanto vale).
"An American Monkey after getting drunk on Brandy would never touch it again, and thus is much wiser than most man" (um macaco americano depois de se embebedar com brandy nunca mais volta a bebê-lo, neste sentido é muito mais sensato do que a maioria dos homens).
Há grandeza neste modo de ver a vida, com as suas potencialidades, que o sopro do criador originalmente imprimiu em algumas formas ou numa só; e assim, enquanto este planeta foi girando de acordo com a lei imutável da gravidade, a partir de um início tão simples evoluíram inúmeras formas mais belas e mais maravilhosas.
Conclusão
Assim, a teoria da evolução das espécies baseia-se nestes conceitos: origem da vida; provas de evolução a partir de campos biológicos diversos (semelhanças quanto à forma, embriológicas, bioquímicas ou achados paleontológicos); factores de evolução: herança (que conserva os caracteres), variabilidade (mutação, recombinação de genes), selecção natural (o meio actua sobre as variações, com os mais fortes a imporem-se aos mais fracos) e isolamento.
O evolucionismo rapidamente se expande para além das ciências da vida a outras áreas do conhecimento, universalizando-se e adaptando-se aos seus princípios científicos. Na filosofia, é entendido como lei geral dos seres comum a toda a espécie de existência, em geral ou em particular; na antropologia e na sociologia, está por detrás da concepção de que o desenvolvimento das sociedades e das instituições seguiu uma certa orientação através de etapas vencidas por meio de leis demonstráveis (Comte); atinge também a política e a história. Abre, pois, novas perspectivas e considerações em variadíssimos ramos do saber, mantendo as suas questões tradicionais grandes e aceso debate a nível filosófico.
No mundo de hoje, o evolucionismo surge como uma doutrina extraordinariamente actual e dotada de argumentos capazes de criar rupturas com o tradicionalismo e as convenções clássicas, conduzindo o Homem a uma reabordagem constante da sua própria evolução biológica. O universo e a vida, em todas as suas manifestações, e a natureza nos seus múltiplos aspectos são cada vez mais entendidos como resultado do desenvolvimento, por oposição às ideias religiosas da criação inicial. O evolucionismo pressupõe serem mais plausíveis a mudança, o desenvolvimento e a adaptação como mecanismos de explicação do conjunto dos organismos vivos.
Bibliografia:
Porto Editora, Diciopédia 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário