Bom, essa matéria vai para minha esposa, que é uma admiradora da cultura egípcia e da "poderosa" faraó Hatshepsut. Para você Bruna!
Corpo de delito? O pequeno frasco de loção de Hatshepsut continha um resíduo cancerígeno do alcatrão. Crédito: Barbara Frommann/Universidade de Bonn.
A Rainha Hatshepsut, a grande faraó do Egito, pode ter hidratado a pele até provocar a própria morte, segundo uma nova e polêmica pesquisa que analisou o conteúdo de um frasco de cosmético.
Pesquisadores da Universidade de Bonn, na Alemanha, encontraram uma substância altamente carcinogênica em um frasco de loção que integra o acervo do Museu Egípcio da instituição.
Há muito tempo acredita-se que o pote conteria perfume e teria pertencido à própria Hatshepsut, segundo uma inscrição na cerâmica.
"Depois de dois anos de pesquisas, agora sabemos que o frasco continha um tipo de loção para a pele, ou até mesmo um medicamento para eczema”, anunciou a universidade em um comunicado.
Os ingredientes da loção incluíam grandes quantidades de óleo de palmeira e noz-moscada, gorduras polinsaturadas que podem aliviar os sintomas de determinadas doenças de pele, e também benzopireno, um hidrocarboneto aromático e altamente carcinogênico.
"O benzopireno é uma das mais perigosas substâncias conhecidas”, afirmou o farmacologista Helmut Wiedenfeld.
De uso proibido nos cosméticos modernos, os resíduos cancerígenos de alcatrão podem ser encontrados em substâncias incineradas e produtos como café, cigarros e alcatrão de ulha.
Templo de El Der El Bahari.Templo de Hatshepsut |
"Sabemos há muito tempo que Hatshepsut sofria de câncer e talvez tenha até morrido em decorrência da doença. Agora descobrimos a causa provável”, afirmou Michael Höveler-Müller, o curador da coleção, acrescentando que há registros de dermatites inflamatórias de origem genética na família de Hatshepsut.
"Se a rainha sofria de uma dermatite crônica e obtinha alívio rápido com a loção, ela pode ter se exposto a um grande risco ao longo de muitos anos”, afirmou Wiedenfeld.
Sem dúvida uma das mulheres mais extraordinárias da história, Hatshepsut era filha do faraó Tutmés I e esposa de Tutmés II, seu meio-irmão.
Quando seu marido-irmão morreu, ela ela tornou-se regente do rei-menino Tutmés III, filho de Tutmés II e de uma concubina.
No entanto, inscrições hieroglíficas sugerem que Hatshepsut não tolerou a situação por muito tempo: envergando um toucado real e uma barba falsa, proclamou-se faraó do Egito.
Hatshepsut reinou de 1473 a 1458 antes de Cristo, como a quinta faraó da Décima Oitava Dinastia, tendo Amenófis e Tutancamon entre seus sucesssores.
Templo de El Der El Bahari.Templo de Hatshepsut |
Durante seu governo, o Egito desfrutou de uma época próspera e pacífica. No entanto, após a morte de Hatshepsut, Tutmés III ficou enciumado com sua popularidade e decidiu apagar a rainha da história do Egito, destruindo suas imagens, inscrições e monumentos.
A múmia de Hatshepsut desapareceu durante muito tempo, e alguns estudiosos chegaram a sugerir que Tutmés III a havia destruído.
No entanto, em 2007, autoridades egípcias anunciaram que o corpo feminino encontrado na tumba KV60, descoberta por Carter em 190, havia sido identificado como a múmia de Hatshepsut.
A múmia revelou uma mulher acima do peso, com pouco mais um metro e meio de altura, careca na frente, mas com cabelos longos na parte de trás, que teria morrido por volta dos 50 anos.
Ao que parece, aquela mulher poderosa, que desafiara a tradição da supremacia masculina no Egito, possuía saúde frágil, ao menos nos últimos anos de vida.
Obesa e com dentes cariados, a múmia também guarda vestígios de um depósito canceroso, uma metástase no osso do quadril.
Entretanto, outros especialistas não estão convencidos de que Hatshepsut se envenenou até a morte enquanto tentava aliviar a coceira na pele.
Tutmósis e Hatshepsut |
"Identificar a substância no óleo que ela usava não é o mesmo que realizar a autópsia no corpo e encontrar traços da mesma substância envenenadora na medula óssea”, esclarece a egiptóloga Paula Veiga.
Ainda não se sabe se Hatshepsut e membros de sua família sofriam realmente de alguma doença de pele.
Embora a múmia de Hatshepsut pareça exibir uma terrível enfermidade cutânea no rosto e no pescoço, os pesquisadores não puderam comprovar, de forma incontenstável, a existência de uma dermatite.
Suposta múmia de Hatshepsut |
De fato, certas resinas usadas no processo de mumificação podem ter sido responsáveis pelas erupções encontradas na pele de Hatshepsut, de seu pai Tutmés I, de seu meio-irmão e marido Tutmés II, e de Amenófis II, o neto de Tutmés I.
Outros especialistas de um grupo do Facebook, o Forensic Egyptology, mostram-se céticos quanto à teoria do frasco envenenado. Radiografias revelam que o recipiente é constituído de duas partes, algo que “jamais apareceu nas cerâmicas antigas desse período”, contestou Veiga. "Pode ser uma falsificação”, acrescentou.
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